Nunca achei que eu falaria sobre um assunto tão elementar como esse. Me enganei.
Com o passar do tempo naturalmente você começa a ignorar as nuances do dia-a-dia e passa a acreditar que todos têm a mesma experiência, conhecimento e ponto de vista que você tem, o que é um grande engano. E pior, com isso você perde horas preciosas do seu dia discutindo o “sexo dos anjos”. Em diversas consultorias que dei visando aumento de performance, me vi nesse cenário: Falando sobre processo, pessoas e tecnologias. E com gestores tentando justificar seus investimentos através da velha artimanha de puxar a sardinha para seu lado.
Em um artigo anterior eu falei sobre identificar o problema (Perguntas erradas para problemas errados) e este artigo o complementa diretamente. Partindo do pressuposto que você já sabe qual o problema deve resolver, agora você precisa identificar a “Ferramenta” correta a se usar. Isso mesmo, processos, pessoas e tecnologias são ferramentas que podem ser usadas para resolver problemas. Alguns autores e metodologias usam nomes diferentes para essas definições, mas para simplificar tudo eu chamarei de “Ferramentas”.
O primeiro princípio que quero deixar claro é que processos, pessoas e tecnologias são o meio pelo qual uma empresa entrega algum produto, serviço, valor ou obrigação (impostos, balanço e coisas do gênero). Reforçando: São MEIO e não o FIM. Tendo em vista que as ferramentas são o meio e não o fim, quando alguém faz perguntas como:
Qual é melhor: CMMI ou SCRUM? fulano ou beltrano? Windows ou Linux?
Conseguimos identificar de bate pronto, que a pergunta não faz sentido.
Mas como assim? Simples. Se eu te perguntar:
Qual é melhor, um martelo ou uma marreta? Um machado ou um bisturi? Uma pena ou uma caneta?
Obviamente, você me responderia que, apesar dessas ferramentas serem parecidas, elas têm propósitos diferentes. Isso se aplica as mesmas perguntas anteriores. Não conheço ninguém que compra uma marreta para pregar um prego na parede, do mesmo modo que não conheço ninguém que compra um martelo para fazer a demolição de um prédio.
Agora começamos a entender o motivo de ouvir essas frases nas empresas:
- Esse processo vai engessar a empresa – Se um processo, seja ele qual for, está impactando negativamente a empresa é porque foi implementado de forma errada. O “consultor” provavelmente colocou uma marreta para pregar um prego ou vice e versa.
- Essa pessoa não sabe fazer nada direito – Se uma pessoa não consegue executar uma determinada função é porque a pessoa errada foi contratada. O RH provavelmente contratou um matemático para função de engenheiro, afinal os dois fazem cálculos (contém sarcasmo).
- Esse sistema é horrível, não funciona direto – Se um ótimo sistema foi projetado para atender as necessidades de uma grande empresa, que possui diversas áreas, com certeza ele não irá funcionar da mesma forma que em uma empresa pequena onde uma pessoa só acumula várias funções.
Agora conseguimos ver o real problema de performance da grande maioria das empresas. Ferramentas erradas sendo utilizadas para executar atividades do dia-a-dia. Boa parte disso se deve ao “modismo corporativo”. Hoje, por exemplo, estamos na onda do ágil, se não foi ágil não é bom, e com isso distorcemos uma ótima ferramenta, que é essa metodologia, tentando usá-la de forma padrão em todos os nossos problemas. Ultimamente tenho ouvido algumas frases absurdas como:
- Passei o status da semana inteira nessa daily scrum;
- Esse Sprint terá duração de 4 meses;
- Fiz uma standup meeting de 3 horas hoje;
- Essa Sprint não pode ter nenhum erro;
Eu já passei por diversas ondas semelhantes a essas, a onda da ISO9000, a onda do PMI, a onda do ITIL e muitas outras, onde as empresas mudam sua estrutura para se adaptar a essas novas tendências sem fazer uma avaliação consistente se isso resolverá seu problema. Na realidade, as únicas empresas que vejo aumentando faturamento com tudo isso são as empresas de certificação, mas isso é assunto para outro dia.
Para finalizar, deixo um conselho a todos os profissionais que implantam processos, desenvolvem, administram sistemas ou contratam pessoas:
Não seja fanboy de metodologia, sistema ou pessoa.
Estude outros métodos e sistemas, saiba para qual propósito eles foram criados, quais foram os contextos em que foram criados, o que eles fazem de melhor, o que eles fazem de pior, para que assim você consiga usar a ferramenta certa para resolver o problema certo.
Por fim, essa é só minha opinião.