Conselhos de coach que não te levam a lugar nenhum

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Eu realmente não gostaria de falar desse assunto, mas nos últimos meses venho me deparando com pessoas do meu círculo de amizades sendo prejudicadas diretamente por pessoas que estão usando o título de coach. Essas pessoas pararam de ir ao médico (psicólogo e/ou psiquiatra), compraram cursos e perderam dinheiro com investimentos mirabolantes. Então decidi escrever minha opinião sobre esse novo filão de mercado chamado coaching.

Ao decorrer dos séculos sempre surgem pessoas tentando se aproveitar da credulidade humana para conseguir arrecadar capital, o nome desse prática é charlatanismo:

“Exploração da credulidade pública, inculcando ou anunciando cura por meio secreto ou infalível” Oxford Languages

O modo de atuação dessas pessoas é semelhante, se apropriando de coisas boas e verdadeiras para criar uma “verdade” construída de “meias verdades”. No geral utilizando técnicas de comunicação, retórica e argumentação que induzem as pessoas a uma falsa conclusão, adicionando à isso um peso cognitivo de bem-estar.

Fiz uma breve pesquisa com alguns conselhos ditos pelos coachs e vamos analisar friamente e ver se faz algum sentido:

  • Não se compare com os outros – Esse conselho seria ótimo se você não vivesse em sociedade, se não tivesse que disputar vagas de empregos e na faculdade, disputar clientes e até mesmo atenção das pessoas. Se você não se comparar, como vai saber que está melhor ou pior que a média das pessoas? Como vai saber quais pontos deve melhora? Principalmente no mundo corporativo a comparação é fundamental para se posicionar corretamente para uma promoção, ou até mesmo abrir seu próprio negócio.
  • Defina metas e ações – Definir metas é algo fundamental para crescimento, porém sem a devida estruturação se tornam apenas pontos de frustação. Conheço muita gente que define a meta de emagrecer, e nunca consegue. Simplesmente comece, faça e depois desenvolva um planejamento raso, para depois fazer algo mais complexo.
  • Administre melhor o tempo – Esse conselho é clássico, o tempo é a única coisa que é igual para todos (o dia tem 24 horas para todos). O tempo não se administra, o que se administra são suas prioridades e você tem que escolher o que realmente é importante. Quando você faz uma escolha está abandonando pelo menos uma opção.
  • Cuide da Saúde – Sério mesmo? Acho que passar o dia inteiro sentado, tomando café e mexendo no computador não se encaixa nesse conselho. Na realidade não consigo imaginar alguém bem-sucedido que realmente pratica isso.
  • Faça algo que tem paixão – Essa é uma mentira muito distante da realidade, se você fizer somente o que tem paixão nunca vai conseguir crescer na sua carreira, pois existem uma infinidade de atividades que você vai odiar.
  • Invista na sua educação – Se esse é o caminho, porque os principais expoentes do empreendedorismo fugiram da escola? Ter uma boa educação e ler vários livros podem lhe ajudar sim, mas não é algo que será o determinante na sua vida.
  • Mantenha o equilíbrio – Esse é o pior de todos. Não conheço ninguém equilibrado que conseguiu deixar de ser medíocre (alguém na média). Toda vez que você tiver que criar alguma coisa terá que gastar boa parte do seu tempo e energia, como é possível alcançar um equilíbrio se você tem que trabalhar oito horas diárias? Você vai gastar mais oito horas cuidado da saúde? E mais oito horas para estudar? E dormir? E mesmo que consiga se manter equilibrado se tornará um pato (voa, nada e anda) e não faz nada bem, sempre tem outro que faz alguma dessas coisas melhor que você.

Enfim, todos os conselhos de coach que eu conheço são para pessoas que estão estabelecidas, que já chegaram onde queriam estar. Mas se você não quer ser medíocre, faça exatamente ao contrário. O melhor exemplo que posso dar é de um nadador profissional.

  • Ele acorda cedo, come uma quantidade de calorias acima do normal.
  • Vai para o treino, e faz uma quantidade de treino que não é saudável para seu corpo.
  • Bebe uma quantidade de liquido que não é equilibrado.
  • Toma suplementos alimentares que não são equilibrados.
  • Geralmente não é o melhor aluno.
  • Não tem tempo para os amigos e família.
  • Não dorme a quantidade necessária para se recuperar de todo esforço.
  • Todos os dias repete essa rotina.

Como se diz nos contos de fadas, “toda mágica requer um preço”. Esse é o preço para ser o mais rápido, ganhar uma medalha e colocar seu nome na história.

Quer realmente fazer sucesso? Seja especifico, trabalhe 12, 14 horas por dia, durma pouco, não espere que seus amigos e familiares entendam a sua ausência, você irá colocar sua saúde em risco, não conseguirá estudar tudo que gostaria de estudar, mas no final dessa via crucis você poderá ganhar uma medalha. E tudo isso sem nenhuma garantia que vai dar certo no final.  É isso, siga os conselhos e seja medíocre, seja intenso e faça tudo ao contrário e assine seu nome da história. Depois que se estabelecer, aí sim “tenha uma vida equilibrada”.

Não estou dizendo que todos esses conselhos não são importantes, só estão em uma perspectiva equivocada da vida das pessoas. Os coachs cometeram um erro básico na análise de situação problema, eles pegaram características e hábitos de pessoas bem-sucedidas e estão replicando para as demais pessoas, não levando em conta que não foram essas caracterizas e hábitos que levaram essas pessoas ao sucesso. Para ilustrar isso vou utilizar a história da equipe de Abraham Wald e os furos de bala.

Um dia os matemáticos da equipe de Abraham Wald receberam uma questão dos militares. Eles queriam blindar seus aviões contra os caças inimigos. Mas a blindagem tornava as aeronaves mais pesadas, e aviões mais pesados são mais difíceis de manobrar e usam mais combustível. Blindar demais os aviões é um problema; blindar de menos, também.

Em algum ponto intermediário há uma situação ideal. Quando os aviões voltavam de suas missões, estavam cobertos de furos de balas. Mas os danos não eram distribuídos uniformemente. Havia muitos furos na fuselagem e quase nenhum no motor. Parecia fazer sentido, portanto, blindar mais a fuselagem. Será?

A blindagem, segundo Wald, não deveria ir aonde os furos de bala estavam, mas aonde os furos não estavam. A grande sacada foi simplesmente perguntar: onde estavam os furos de bala que faltavam? Eles estavam nos aviões que faltavam. A razão de os aviões voltarem com poucos pontos atingidos no motor era que os muito atingidos no motor simplesmente não voltavam.

A blindagem, para Wald, deveria ser feita nas partes onde não havia furos. Suas recomendações foram rapidamente materializadas. Uma coisa que os militares compreendem bem é que os países não vencem guerras somente sendo mais corajosos do que o outro lado (Clique aqui para ler na integra).

Concluindo, os coachs estão induzindo as pessoas a colocarem blindagens onde há muitos furos de balas, entendo que isso é o melhor a se fazer, porém a dispersão dos furos nos aviões que voltaram não representa a realidade dos aviões que caíram e você pode acabar sendo um desses aviões que não irá voltar.

Por fim, essa é só minha opinião.

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